16 de jun. de 2006

O Velho, O Mar e Eu

Ler O VELHO E O MAR, de Ernest Hemingway, fez-me ter vontade de pescar em alto mar, assim como ler ZEN E A ARTE DA MANUTENÇÃO DE MOTOCICLETAS, de Robert Pirsig, me deu vontade de cruzar o estado sobre duas rodas. Por um motivo muito simples: são livros apaixonantes! Livros em que, durante a leitura, esquecemos que somos passivos, e passamos a fazer parte da aventura, do drama.

Mas, voltando a Hemingway... sou fã do escritor – apesar de sua declarada simpatia por Fildel Castro. Desde a sua intrigante biografia, até – e principalmente – seus romances. Desde sempre, pergunto-me “por quem os meus sinos dobrariam”!

Em O VELHO E O MAR, ele trata da vida de um velho pescador, Santiago, que, segundo descrito por ele, "tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos, que eram da cor do mar, alegres e indomáveis”.

Santiago está, há 84 dias, sem fisgar um peixe, e decide lançar-se ao mar, e não retornar até que mude essa situação. A princípio, somos levados a achar que o velho quer provar aos demais de sua aldeia em Havana que ainda é um bom pescador. Mas é a si mesmo que ele precisa provar algo. Como define H.D.F.Kitto, em seu livro OS GREGOS, “o que impulsiona o herói grego a praticar atos de heroísmo não é o senso de dever que conhecemos – o dever em relação aos outros; ao contrário, é um dever com relação a si mesmo. Ele luta para conseguir aquilo que designamos 'virtude', mas que os gragos chamam aretê, ou seja, superioridade”. É a descrição do motivo de “dever para consigo mesmo”, tradução perfeita da palavra sânscrita dharma. O dharma dos hindus, a “virtude” dos gregos antigos, é o motor propulsor que leva o velho Santiago a alto mar, por três dias, em busca de sua baleia Moby Dick, em busca de enfrentar seus medos, suas angústias, suas fraquezas.

Durante a aventura do velho pescador, Hemingway nos mostra os limites do ser humano diante de seus obstáculos. A busca por derrubar os inimigos passa por vencermos nossos próprio medos, e todo o custo que isso implica. O respeito pelo inimigo, a compreensão de que o peixe – no caso do velho Santiago – constitue-se inimigo pela circunstância, e o consequente respeito que eles demostram um pelo outro, apesar da batalha exaustiva e quase infindável, mostra que, em um duelo, se vencemos nosso oponente, devemos ter em mente que isso se deu por sorte, circunstância ou algum elemento que conferiu superioridade a uma das partes. Mas nunca, em momento algum, deve-se deixar de respeitar o seu adversário. Como disse Jean Yves Leloup, “amar o inimigo é desposar o outro em sua radical outridade, é descobrir a luz sob sua forma de sombra inseparável".

Tentar descrever O VELHO E O MAR é como tentar descrever um dia de pesca, ou uma jornada de motocicleta... cheio de minúcias, possível apenas aos que mergulham nesse desafio e suas incríveis descobertas!


4 comentários:

Anônimo disse...

Lisa!

Teu cantinho ficou muito legal!

Não tenho nada contra nem a favor de Fidel, mas me encantei com Cuba e com os cubanos. Cheguei a cogitar escrever sobre o assunto, só que estive lá há 15 anos... E espero que a vida tenha melhorado para aquele povo tão amigável. Foi um dos lugares mais bonitos que visitei e um dos povos mais prestativos que conheci.

Beijos, amiga!

Anônimo disse...

Oi Lisa,
não estou com tempo de ler agora placidamente - como faço- teus escritos, mas também não posso deixar de registrar aqui a minha presença, mesmo que de contemplação. Breve farei comentários depois de ler teus textos. Antecipadamente já me sinto gratificada por ver que terei que dispensar momentos para adoçar meu coração e levitar com a alma.
Bjs
Lígia Beuttenmüller

Anônimo disse...

Seus textos me emocionaram, principalmente quando você cita um dos melhores livros que já li: O Velho e o Mar. Faço parte de um Ong (Àgua Viva) que leva bibliotecas a presos, lugares carentes e a quilombos ainda existentes aqui em Cabo Frio. Nosso propósito é que comecem pelas revistas, já que não têm o hábito da leitura, passem para os romances água com açúcar ou suspense e um dia, quem sabe, cheguem a conhecer os grandes escritores.

Anônimo disse...

ESSE LIVRO SEMPRE FOI MUITO QUERIDO POR MIM, SEI QUE FUI APAIXONADA POR ELE, QUE EMOÇÕES INDESCRITÍVEIS SE APOSSARAM DE MIM AO LÊ-LO.MAS ERA UM AMOR POSTO DE LADO. HOJE, POR ESTAR EM CASA, FERIDA(OPEREI O TORNOZELO), TENHO MAIS TEMPO E VOU RELÊ-LO. SEUS COMENTÁRIOS DESPERTARAM MEUS DESEJOS DE FAZER ESTA VIAGEM DO HERÓIS : A BUSCA DA SUPERAÇÃO DOS OBSTÁCULOS, DO ENCONTRO COMIGO MESMA.SEI QUE TEREI NOVOS OLHARES, AGORA ESTOU MAIS MADURA, SEI MAIS UM POUCO DA VIDA...oBRIGADA E DEVEMOS ISSO A DÉBORAH E SEU BLOGG, POIS FOI ATRVÉS DELE QUE AQUI CHEGUEI.BEIJOS
ELOISA HELENA