30 de dez. de 2009

Um Passarinho É Um Passarinho É Um Passarinho


Eu já escrevi aqui anteriormente sobre minha relação com vizinhos e música.
Depois da aventura do(a) saxofonista anônimo(a) que coloria minhas noites, são agora os meus dias que estão tomados pela musica do vizinho (sexo masculino, esse eu conheço de conversas de elevador!).

O meu vizinho gosta de escutar Metallica, AC DC e Rage Against The Machine às nove horas da manhã, e em volume máximo.

Eu não tenho absolutamente NADA contra música – muito pelo contrario, eu imagino o quão preto e branco seria o rascunho da minha existência sem ela! -, mas devo admitir que demorou uns dias até que eu escutasse – pontualmente! – o repertorio do meu vizinho, e não achasse que, dentro de minutos, eu seria feita de refém.

Mas parece que eu não fui a única afetada por esse evento.
Costumo tomar o meu café (preto, sem açúcar!) na varanda de meu apartamento, e de uns dias pra cá, além das ondas musicais vindas do apartamento ao lado, passei a ter outra companhia: um simpático passarinho, que passou a pousar na minha varanda para o seu canto matinal.
Quero aqui fazer um pequeno parêntese para explicar que passei dias tentando imaginar por que o passarinho pousava diariamente em minha varanda, e não em qualquer outra... e, depois de muito raciocínio (e muitas xícaras de café), cheguei a simples solução que a minha varanda era nada mais que a mais próxima na trajetória dele. Não havia de ser nenhuma outra razão um tanto mais complexa, afinal um passarinho é um passarinho é um passarinho.

Mas voltando ao canto matinal do dito passarinho... ele chegava de mansinho, e começava a cantarolar, até ser interrompido pelos bravejos da caixa de som do vizinho. O passarinho, então, indignado, retirava-se, até voltar no dia seguinte.
(Registro aqui que fiquei completamente solidária ao passarinho. Não existe nada mais frustrante do que uma competição desigual!).

E o fato se repetiu, por pelo menos uma semana. Eu confesso que já estava acostumada aos personagens da minha manha, quando um fato inusitado ocorreu e tudo drasticamente mudou. De repente – sem nenhuma explicação! – o meu vizinho parou de ligar o seu som durante as manhãs.

No primeiro dia em que percebemos isso (eu e o passarinho), foi como o silencio mais ensurdecedor do mundo. Como sempre, ele pousou, cantou... e nada. Esperou mais uns segundos, e nada. Nada. De novo: nada! Ficamos os dois, por alguns momentos, aguardando o Armageddon - ou seja lá o que poderia acontecer para quebrar aquele momento tão desconcertante. E, na ausência de qualquer evento, o passarinho lançou vôo e foi-se.

No dia seguinte, ele voltou, e a mesma ausência se sucedeu. No terceiro dia, ele não voltou mais.
Foi então que percebi que o real motivo das visitas matinais do passarinho era a música do vizinho, e, de repente me senti traída pelo passarinho como ele se sentiu traído pelo vizinho: abandonada, sem aviso prévio!

Dias depois, eu soube - pelas conversas de elevador – que o vizinho havia se mudado (ele e sua música!) para a Europa.
Passei, então, a tentar uma solução alternativa: tomar meu café na varanda com meu radinho, na esperança de seduzir novamente o passarinho.
Na semana passada tentei Eric Clapton. Essa semana, estou com Pink Floyd, mas, por enquanto, nenhuma manifestação de terceiros!

"Diferenças artísticas"... deve ser esse o termo técnico!