18 de jun. de 2006

Não Morrerá Como os Restantes

Starring Nigh - Van Gogh

Como mais órfã que me sinto, sempre que somem de nosso cenário, por serem chamadas para a eternidade, as pessoas que se vão inconsolavelmente cedo -, fico, aqui, imaginando o conceito da palavra Imortalidade.

Milan Kundera, em seu romance “A Imortalidade”, classifica-a como pequena e grande. A pequena imortalidade é a recordação de uma pessoa no espírito daqueles que a conheceram. A segunda, é a recordação de um homem no espírito daqueles que não o conheceram, como acontece com pessoas que deixaram um traço, uma história. Pessoas que afetaram, em maiores proporções, o mundo de que fizeram parte. Ou, parafraseando o Jorge Luís Borges, quando um único homem imortal é todos os outros homens.

A busca pela imortalidade é algo constrangedoramente interessante de ser verificado. Dos remotos tempos até nossos dias, desde romances conturbados, gravidezes contestadas, crimes hediondos, até participações em Big Brothers, o sonho dos quinze minutos de fama que se tornarão eternos é perseguido. Algumas pessoas não se contentam em ser pequenos imortais, pelo simples fato de que não se acreditam assim, não se acham boas o suficiente para serem lembradas ou, o que é ainda mais aterrorizante, para despertarem nos outros comoção por sua ausência. E estão sempre gesticulando neuroticamente, tirando a roupa, falando um pouco mais alto, na tentativa de serem ouvidas, já que não suportam, sozinhas, suas próprias vozes.

Já os grandes imortais, via de regra, não estão com essa preocupação latente. Eles fazem o que fazem, vivem suas idéias e as refletem em seus ofícios por uma razão muito simples: eles não têm opção! Não há como guardar aquilo – que pode ser chamado de dom, persistência, excentricidade ou sonho – dentro deles, sem deixar jorrar! Eles contaminam o mundo – seja o mundo uma grande população ou aquelas dez pessoas que foram afetadas pela sua existência -, e se tornam imortais, ainda na condição de mortais, ainda vivos, ainda perseguindo o que nem sabem se vão encontrar.

O conceito de grande imortalidade é maravilhosamente descrito por Arthur Schopenhauer,em 'Aforismos': “Certo dia, quando recolhia espécimes por baixo de um carvalho, encontrei, entre as outras plantas e ervas daninhas, e do mesmo tamanho que elas, uma planta de cor escura com folhas contraídas e um caule direito e rígido. Quando ia tocar-lhe, disse-me com voz firme: «Deixa-me em paz! Não sou uma erva para o teu herbário, como as outras a quem a natureza deu apenas um ano de vida. A minha vida mede-se em séculos. Sou um pequeno carvalho.» Assim é aquele cuja influência se fará sentir ao longo dos séculos, quando criança, quando jovem, muitas vezes já quando homem, uma criatura viva aparentemente igual às restantes e tão insignificante como elas. Mas basta que lhe dêem tempo e, com o tempo, pessoas que saibam reconhecê-lo. Não morrerá como os restantes.

As pessoas saem de cena, mas fica o que chamamos de Imortalidade, que temo ser, em última instância, a necessidade desesperada de nos apegarmos à memória de tudo que soma, de tudo que pode se desmanchar no ar, para não termos que aceitar viver em um mundo prodominantemente medíocre!

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lisa!
Há quanto tempo!
Ham .. esse texto é por causa do Bussunda? (li seu comentário no "A Mente da Mulher") ..
Com certeza vc é daquelas que têm a grande imortalidade .. pelo menos sempre estará na minha memória .. torna o "meu mundo" menos medíocre .. ou melhor .. mais alegre e gostoso para se viver ^^

Adorei o texto do quintal! =)
Não cuido muito bem do meu .. mas adoro-o! rs

E curti muito sua foto do Orkut tbm! O que vc está abraçando? (não consegui reconhecer .. míope é fogo ..rs)

Beijão .. ótima semana!

Anônimo disse...

Lisa!
Que texto lindo! Tantas referências fantásticas, a começar pelo Van Gogh! Minha tela favorita, Starry Night!!!
=D
Fiquei orgulhosíssima, que mulher culta, meu Deus!
hahaahahah!!!!
Suas idéias combinam com as minhas...
Um beijo!
DÉ!A

Anônimo disse...

linda argumentação, lisinha.
acho até que você se encaixa nessa falta de opção a não ser imortalizar-se, nessa falta de opção a não ser emanar sonhos, dons, persistências ou do que mais você qualificar essa imortalidade linda e pura que de tão viva se contradiz.

...e nem adianta negar. você não tem outra opção. ;)

amo você, bebê! mesmo mesmo.

Olga disse...

Lisa,

Descobri seu blog através do "A Mente da Mulher" e fiquei encantada. Seu texto é uma delícia com lindas referências.
O texto sobre nossos quintais é magnífico. Parabéns !!!

Olga
www.Notascotidianas.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi, Lisa!

Hoje estou aqui enrolando para acabar de escrever o texto de segunda-feira... E me dei conta que estava te devendo uma visita.

Ao ler seu texto, vesti a carapuça. Lembrei de um e-mail que trocamos esta semana.

E vi que a Olga se encantou com você. Mole, mole. Você é encantadora.

Adorei as mudanças que você fez no layout do blog e fico cada dia mais surpresa com a sua criatividade.

Para mim, Lisa, você já é imortal.

Beijos!