12 de dez. de 2010

Lisa In The Sky With Diamonds


Desde pequena, eu estudei em escola Montessoriana. Sempre estudei com pessoas diversas, e, ate os meus 8 anos, em meu mundo, pessoas serem diferentes era a regra confortavel da minha vida. Eu vivia feliz, enganada, achando que nada ia mudar essa certeza.

Ate que comecei a parceber as diferencas que as pessoas faziam entre os diferentes. Perceber que pessoas com condicoes mentais, ou fisicas, desviadas do normal eram tratadas de forma especial, fez meu mundo tao feliz e seguro desabar!

Eu nao sou normal. Saber que nao ser normal era normal, era o meu porto seguro. Que choque que foi descobrir-me em um outro mundo tao distinto daquela bolha em que eu vivia!

Desde entao, carrego comigo essa certeza de nao pertencer, de nao ser, de nao conseguir me conectar. Carrego essa angustia de procurar um abrigo para a minha agonia, um sinal de que existe um proposito maior do que simplesmente ser um desperdicio de materia.
Busco uma explicacao, uma Razao, um proposito. Nao pertencer, sentir-se quase que permanentemente a margem do que a maioria quer/gosta/faz, eh, ao mesmo tempo frustrante e engrandecedor. Hoje, posso dizer que tenho dois sentimentos muito fortes: tenho muito medo de ser quem eu sou; e tenho tambem muito medo de deixar de ser quem eu sou.

Nessa busca constante e incessante de pertencer ao Universo, de alguma forma, venho perseguindo o que, assim espero, ha de acalmar a minha alma. Ainda nao achei... nem sei se irei achar. O que sei eh que essa busca tem sido enriquecedora, e as experiencias que venho acumulando tem agregado tanto a minha alma, que, por alguns momentos, mesmo que por tao poucos momentos, posso dizer que me sinto como se estivesse em harmonia com o Universo.

Eh tao injusto sentir-se assim, quando em nossas vidas tantas coisas boas acontecem... - e, ao mesmo tempo, nos da uma sensacao tao urgente da necessidade de devolver de alguma forma todas essas bencaos que recebemos -, que eh insustentavel nada fazer.

Ja disse Graciliano Ramos, por intermédio de Riobaldo, o jagunço-filósofo de Grande Sertão Veredas "o real não está na saída nem na chegada: Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia." , e eh essa travessia que me angustia e me faz me jogar no Mundo todos os dias. Eh essa travessia que me fascina, que me faz acreditar que podemos fazer alguma diferenca, em nossas vidas, no Universo, que existe algo tao maior do que o nosso proprio umbigo.
Eu tenho muito medo de que a vida passe sempre pela janela, e que so eu e a Carolina (do Chico Buarque) nao venhamos a ver!

Todos os dias, quando acordo, prometo-me procurar, naquele dia, os pequenos milagres que nos sao mostrados a cada esquina, tao simples e tao silenciosos, e que fazemos questao de ignorar. Quando ser diferente deixou de ser um obstaculo, e virou uma desafio, passei a procurar perceber que existe beleza nas pequenas coisas, onde ninguem nem aposta que va existir. Passei a procurar ver em se dar, a oportunidade de estar, sim, recebendo.

Talvez toda essa minha baboseira existencialista tenha me trazido para onde estou, para o que hoje faco, para o que, de certa forma, o destino me levou, e onde eu me sinto menos fora do Universo.
Talvez toda essa baboseira melosa tenha se tornado gritante minha mente quando li certa vez uma reportagem do ator Sergio Britto, em que ele afirmava que amava tanto o que ele faz, que morrer no palco seria para ele a Gloria. Quantos de nos estamos assim tao satisfeitos e orgulhosos do que fazemos?
Talvez toda essa baboseira me ajude a fingir que eu me sinto confortavel e segura perto de outros, e me faca me sentir menos estranha em me indignar com o que parece ser tao bem aceito. Faz-me nao ter vergonha de questionar ou, ate mesmo, ir de encontro ao que ja estah escrito em pedra. Faz-me, ate, ficar extremamente orgulhosa de minhas escolhas, muitas vezes aparentemente (ou certamente!) tao bobas.

Conviver novamente com pessoas que necessariamente nao sao consideradas normais (quem foi que diabos instituiu essa definicao mesmo?), fez-me sentir-me normal de novo, em meu habitat de quando eu tinha 8 anos de idade em que nada, - nem Barack Obama nem Julian Assange - poderia abalar o meu mundo.

Mas tudo isso so estah sendo aqui escrito porque, na semana passada, em meio a tantos voos indo e voltando, tantos momentos de extase, tantas apenas-4- horas-por-noite-dormidas, tanta adrenalina no trabalho..., eu pude deitar-me na grama, de maos dadas, apenas para apreciar o arco-iris que se formava no ceu perante a tempestade iminente.

E isso me fez novamente acreditar!

18 de nov. de 2010

Meu Fascinio Por Lego


Desde pequena tenho uma fascinacao pelos brinquedos Lego.
As cores, os formatos, os temas, as diversas variacoes e possibilidades... Como eh que pecas que, aparentemente, nao se conectam, unem-se de forma tao harmoniosa, e conseguem formar figuras tao belas? Figuras estas que, muitas vezes, inimaginaveis quando apenas observamos peca a peca.

Lego de lado, livros a mao. Comecei a ler – por indicacao do meu queridissimo primo Ovidio – o livro WHAT TECHNOLOGY WANTS, do Kevin Kelly. O livro eh uma delicia, um mergulho em aguas das quais nao quero sair. Discussoes interessantes, questoes diversas... Tao interessante, e abrangendo tantas vertentes, que de repente senti a necessidade de parar a leitura deste, e retomar (reler, depois de um ano!) ARMAS, GERMES E ACO (GUNS, GERMS AND STEEL), do Jared Diamond. A releitura deste seria um alimento para me preparer melhor para aquele, propiciando mais detalhes e explicacoes.

Mas dai, caiu em minhas maos o livro seguinte do Jared Diamond, COLLAPSE, cuja leitura (e, essa, primeira viagem!) nao apenas complementaria a leitura anterior, mas tambem a vindoura do Kevin Kelly, ainda em stand by. Novamente, aqui digo... um livro imperdivel, para os amantes da leitura, do bom argumento, da boa investigacao, e aos portadores de curiosidade aguda.

Ao terminar este ultimo, olhei para a minha prateleira, e me vi tentada a reler Fritjof Capra. A TEIA DA VIDA e O TAO DA FISICA me pareceram, sem sombra de duvida, o que estava faltando para fechar o ciclo “pre-Kevin Kelly”.

A leitura e re-leitura desses livros – todas acompanhadas por muito Chardonnay e muita Nina Simone – foi-me inserindo em mundos aparentemente desconexos (fisica, antropologia, teologia, politica...) que casaram e se complementaram de forma perfeita!

O mais interessante, sob a minha humilde otica, em reler esses livros, e de agora – finalmente! – ter retomado a leitura de WHAT TECHNOLOGY WANTS, eh que todos eles tratam, invariavelmente, nao apenas de fazer um estudo, uma observacao, uma constatacao, um tratado sobre padroes anteriores ou tendencias futuras, mas, sobretudo, sobre como lidar, como transcender nesse periodo de transicao (nossa Era!) entre o que ja foi (heranca) e o que ainda serah (legado), de forma a conseguirmos nao apenas “sobreviver” as constantes mudancas e avancos (tecnologicos, sociologicos, antropologicos...), mas, principalmente, entende-los e fazer parte – cada um a sua forma – deles. Em outras palavras, como coexistir de forma ativa. Como sermos a patente, em lugar de sermos patenteados.
Como bem define Fritjof Capra, em A TEIA DA VIDA, mudar de ‘quantidade e formulas’ para ‘qualidade e padroes’.

Agora ja estou na metade do livro (dessa vez eu termino, Ovidio!), mas, estou sentindo a necessidade de reler um pouco de Marx (Karl Marx... nao Groucho! – este ultimo constitui um prazer a parte!) para melhor entender o livro que ora folheio. Mas chega de tantas interrupcoes em minha leitura! Para acalmar essa minha impaciencia, acho que vou fazer um pouco de Lego agora...

De qualquer forma... em havendo alguma outra sugestao de leitura complementar... a casa agradece!

Momento Frank Sinatra


Hoje de manha eu tive um Momento Frank Sinatra.
Era mais um desses dias cinzas, depois de inumeros dias cinzas, quando voce ja perdeu a expectativa, o vislumbre de dias melhores, e em que, de repente, algo simples - aparentemente ordinario - ocorre, e tudo ao seu redor se modifica, toma cor, converte-se em tons e sobretons, bemois e sustenidos, toma peso e forma, toma sabor e aroma.

Estava eu, simplesmente – mais uma vez – cruzando a minha amada ponte Story Bridge, voltando do trabalho para casa, no meio da manha, em meio aquele clima mais incerto do que meus sentimentos, largada em mais uma manha de novembro, quando comeca a chover. E chover, quando eu estou atravessando a ponte, eh sempre bem vindo! (Alias, quase todas as ocorrencias enquanto eu atravesso a ponte, sao poeticas – pelo menos sob a minha otica! Vide aqui).
Mas, enfim... chuva, minha amada ponte... dia cinza tornando-se colorido... “de repente, nao mais que de repente”, surge em mim a urgencia de cantar Singing In The Rain. Melhor! Surge em mim a urgencia de viver Singing In The Rain. A necessidade de abrir os bracos, em meio aquela agora tao bem vinda chuva torrencial, e poder bravejar What a glorious feelin',I'm happy again...
Frank Sinatra tomou controle. Eu apenas andava, e me molhava!

E um sentimento bom, que muitas vezes so Frank Sinatra pode proporcionar, tomou conta de mim. E, a partir dali, ficou decretado que o dia seria um bom dia! E ficou sacramentado que, daquele momento em diante, o dia seria florido, colorido, preferido, nostalgico... porque muitas vezes a delicia de algo estah em a que esse algo nos remete. E cantar Singing In The Rain me remeteu a um encontro entre bons amigos, que nao se encontravam ha anos, e tiveram a oportunidade de se reunir, por pouco mais de dois dias. Cantar Singing In The Rain hoje me remeteu a cantar Singing In The Rain com eles, todos nos abracados, tambem na chuva. Remeteu-me a como eh bom lembrar daquilo que eh mais importante, e que no dia a dia, com a correria e os afazeres, e a solidao que a vida invariavelmente nos impoe, as vezes a gente tende a esquecer.

Cantar Singing In The Rain hoje me fez lembrar que as vezes fechar os olhos e fantasiar eh uma forma de reviver. Afinal, o que seria da vida sem os sonhos quando estamos acordados?