14 de nov. de 2006

Minha Ponte Aérea para Shangrilá

Há frases, músicas, aromas, lugares que, em determinados momentos, significaram muito pra mim, e aos quais sempre retorno para resgatar um sentimento ou alguém (e esse alguém, geralmente, é quem eu fui, ao me ver transformada durante aquela determinada troca de sensações).

Alguns desses meus portos seguros são os livros.

Lembro-me, ainda pequena, quando tive catapora,e fiquei alguns dias de “castigo” para me recuperar, tendo como companhia Zezinho, O Dono da Porquinha Preta. A partir de então, peguei o vício da leitura, e tive uma infância recheada de aventuras, desde segredos em ilhas e órfãs heroínas, até o mundo mágico de Narizinho e Emília. As aventuras de Hercule Poirot e Miss Marple povoaram a minha adolescência de mistérios e crimes a resolver, a ponto de eu ter passado alguns anos tentando descobrir os pretensos macabros segredos de toda a minha vizinhança.

Alguns anos depois, li outros livros que afetariam, definitivamente, a minha vida, dentre eles, o indescritível Crime e Castigo. Tão apaixonada fiquei por aqueles universos novos, todos me aguardando para serem descobertos, que nunca mais quis abandoná-los, e, até hoje, não fico mais de dois meses sem embarcar em uma nova aventura, onde os personagens têm seus perfis descritos, mas seus sorrisos, suas silhuetas, sua expressões... só o leitor pode saber, definir, criar. Ler é como brincar um pouquinho de Deus, e poder, a nosso bel prazer, inventar e reinventar as situações, viver tantas situações e tantos amores em uma só existência. A cada vez que releio algum livro de Jorge Amado, o sol em determinado capítulo está mais quente. A cada releitura de algum romance do Milan Kundera, a paixão entre alguns personagens torna-se mais tórrida. A cada festa descrita por Scott Fitzgerald relida, a embriaguez é maior.

Dentre os tantos (tantos!) trechos de livros a que me remeto sempre, estão aqui alguns deliciosos, sofridos, reflexivos, vividos, divididos!!!


Isabel Allende: A CASA DOS ESPÍRITOS:
"Barrabás chegou à família por via marítima..."

Milan Kundera: A IMORTALIDADE:
"O sorriso e o gesto eram cheios de sedução, ao passo que o rosto e o corpo já nada de sedutor tinham. Era a sedução de um gesto afogado na não-sedução de um corpo. Mas a mulher, embora devesse saber que deixara de ser bela, esquecera-o neste instante".

Gabriel Garcia Marquez: O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA:
“Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados”.


Robert Pirsig: ZEN E A ARTE DE MANUTENÇÃO DE MOTOCICLETAS:
“A motocicleta funciona inteiramente de acordo com leis racionais, e o estudo da arte da manutenção de motocicletas é, no fundo, um estudo em miniatura da arte da própria racionalidade.”