28 de out. de 2006

Em Qualquer Lugar

Por esses dias, andei angustiada, sem saber o que comprar de presente para uma amiga minha, muito querida. Às vezes achamos que é mais difícil presentear aqueles que mal conhecemos. Hum... tenho que discordar. Explico-me: quando mal conhecemos alguém, realmente fica difícil presentear por desconhecermos totalmente seus gostos e preferências. Mas, quando conhecemos tanto e tão intimamente alguém, a expectativa da sintonia, da novidade, do inesperado, dificultam ainda mais a escolha, tornando o exercício angustiante.

E foi nesse contexto que me deparei com o CD da Rita Lee, Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar. A Rita Lee, para mim, é como o Paul McCartney: quando a gente acha que eles já inventaram de tudo, eles vêm e mostram quão enganados estávamos. As músicas do McCartney e do Lennon, imortalizadas pelos Beatles, já sofreram versões que as descaracterizaram e as caricaturaram. E, ao perceber que o CD da Rita não apenas fazia a releitura de alguns desses clássicos, como também trazia algumas versões livres para o português, a minha aflição, imaginando que a ela beirava esse patamar, aumentava.

E quão prazeroso foi, para mim, perceber que eu estava completamente enganada! A Rita interpreta com delicadeza belas músicas como All My Loving, A Hard Day´s Night e Here, There and Everywhere. E quanto às versões livres para o português que ela faz de algumas dessas músicas?, algumas eu achei interessantes e ousadas, como os versos em que ela brinca com um “I love you pra xuxú/ Se você não está perto eu fico jururu/ Tudo azul mas sem você eu fico blue” ou outro “você vai se ferrari”. Outras, não fizeram tanto assim o meu estilo, ficando eu agradecida por existirem as versões originais em inglês.

Mas não será a amizade como o CD da Rita, enfim?, ela pode ser sempre a mesma, sob várias versões e variações?, uma mesma base, sendo sempre reconstruída e reinventada, sem, com isso, perder-se a versão original?.

O CD da Rita é para ser ouvido no carro, com o trânsito engarrafado ao meio dia; em casa, em um domingo chuvoso, comendo mingau de aveia em cumbuca de porcelana azul, ou em qualquer lugar. É um CD reconfortante sobre inovar, tentar, ousar – com a cautela de não beirar o ridículo.

Dedicá-lo a si mesmo, a um amor ou a um amigo, é um convite à reinvenção, por tempo indeterminado, de um sentimento eterno – eterno como as músicas dos Beatles e a irreverência da Rita. É compartilhar a certeza de que as mudanças existem e continuarão sempre existindo, mas as nossas versões originais estarão sempre ali, guardadinhas, estejamos nós aqui, ali, ou em qualquer lugar.

Não tive mais dúvidas sobre o que comprar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que vc fez uma ótima escolha, meu amor. O CD é muito gostoso. Sempre te sinto pertinho qdo escuto ele.
Bjs e um forte abraço

Anônimo disse...

dei uma olhada e gostei, mais pela disposição do conteúdo. O fundo em claro facilita muito a leitura ao contrários dos Blogs com fundo a negro. parabéns.

Já agora deixo o meu endereço, apesar de ser um Blog com características e temas locais, aqui fica para tua apreciação e divulgação.
meu mail blog-gw@iol.pt

blog: www.generalgw.blogspot.com

Anônimo disse...

oiii bb...
Finalmente vc lembrou do blogger... e o rosto, como está?? Espero que melhor... Vamos marcar o almocinho né??? Será que dessa vez, a trufa vai??
Take care...
Beijooooooooooooo

AMOR É POESIA disse...

Ótima a reflexão sobre RITA LEE e as músicas dos BEATLES. Música para mim é acalanto, porque os compositores são deuses que conseguem roubar da natureza os melhores sons e os poetas são artífices da palavras.
Que bom acertar num presente para alguém, por isso é chamado de lembrança, pois fomos lembrados e nos lembramos de alguém que também lembra da gente. Adoro ler seus textos.Um beijão, até o próximo texto.