22 de mar. de 2006

Gianechini


Aos primeiros dias de novembro deste ano, houve uma comemoração de aniversário lá no meu trabalho. A minha chefe estava presente, e resolveu relatar um fato que ocorrera com a sua filha - deve ter entre 8 e 12 anos... não tenho certeza!
Mas o fato é que a menina se apaixonou perdidamente pelo Gianechini... perdidamente mesmo!!!!! Em meio aos nossos disfarçados risos, ela contava como tudo acontecera: a menina, certo dia, chegara para a mãe e confessara seu incondicional e febril amor pelo belo rapaz, que sem ele não conseguiria mais viver, que precisava ir vê-lo pessoalmente, que sem isso não conseguiria mais viver.
Nesse mesmo momento, eu pensava: como é bom ser criança, como nos iludimos e pensamos coisas tão bobas, sem nenhum sentido, intangíveis, e eu, em minha infinita arrogância, tive pena da pirralha... pena, como a gente tem de alguém, que anseia algo impossível, ridículo e inimaginável a qualquer pessoa com o mínimo senso.
Então, parei e pensei em minha vida... há poucas semanas, eu acompanhava a trajetória de um certo escritor. Apaixonei-me perdidamente por suas idéias, por suas contradições, por seu (único) sotaque, por seu jeito de movimentar seus lindos lábios e suas expressivas sobrancelhas... Horrorizada, e ao mesmo tempo admirada, comparei-me àquela pirralha. Qual a diferença entre nós???. Não sejamos ingênuos... muitas! Primeiramente, a facilidade de aceitar o fato e achá-lo extremamente normal. Segundamente, porque, apesar de, no fundo do meu ser, eu desejar desesperadamente que houvesse qualquer possibilidade de eu conhecê-lo, infelizmente, para a minha eterna e desgraçada constatação, eu percebi que eu cresci, e um dos maiores temores que eu tinha na minha vida se tornou realidade: eu deixei de acreditar!!!
Ai que dor!! Ai que desilusão!! Ai, que raiva de mim mesma! Apesar de eu desejar, desesperadamente, jamais eu sentiria aquele fio de esperança (saudável), da possibilidade, e me vi morta, sepultada, em meu sentimento.
Sentimento que eu só poderia compartilhar com aquela pirralha, que provavelmente não me criticaria, que me entenderia, que sofreria e alimentaria esperanças comigo.
Senti-me tão agradecida por esse (ridículo?) sentimento, que não me deixava dormir, comer, viver (e eu imaginava que o Gianechini provocava o mesmo sentimento nela).
O fato é que, na minha razão de adulta, tenho a certeza de que nunca poderei conhecê-lo, nem mesmo tirar uma foto e ser feliz para sempre, e nem poderei comprovar se a paixão se resume à admiração ou se é realmente dessas febres que nos consomem para sempre (pára com isso! Nem aos 15 anos, você teria direito a pensar essas bobagens!!)
E, de repente, flagrei-me com inveja daquela pirralha de não sei bem quantos anos, mas que tinha seus mais (ainda) livres sonhos, aspirações, desejos – realizados ou não, mas com muita fé!. E eu, adulta, “equilibrada”, “ponderada”, apenas me sentia extremamente frustrada e com aquele infinito e desolador, desesperado medo (ou certeza!) de que nunca teria meu sonho realizado. Talvez seja isso que me falte... a inocência de acreditar no impossível... pois afinal... quando menos se espera... ele pode nos surpreender e acontecer... será que estamos preparados para vivê-lo?????
Enquanto isso,fico aprisionada aqui, em meu corpo de 30 anos, e com aquela vergonhosa intenção de “regredir” aos meus 12 anos e acreditar que os sonhos podem se tornar realidade, e poderei sorrir, por meros e eternos 10 minutos.
E, caso haja, ainda, alguma dúvida... o Gianechini esteve aqui em minha cidade... e a sonhadora pirralha hoje dorme feliz, e menos atormentada do que eu, abraçada com o seu troféu , a tão desacreditada - e até então risível - foto tirada com seu “muso”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Brava!!!

Estava procurando por sobrenomes italianos e... quem diria, e vim cair no seu blog.

Gostei de como escreve!!!

Alexandre