8 de jul. de 2009

Papel em Branco, Caneta Preta


Papel em branco, caneta preta na mesa.

Comecei a escrever. Escrita meio sem vontade, sem identidade, escrita sem nem um porque. Mesmo assim, escrita.

E, já no segundo parágrafo, começaram a surgir no papel algumas idéias, e rabiscos - não mais em tinta preta, mas sim em tinta azul.

Mas eu não parei, continuei escrevendo. E o texto foi tomando corpo: palavras que eu não pré-meditava, idéias que eu não sabia que tinha, frases que eu guardava em um compartimento dentro de mim que eu não me permitia tomar conhecimento, foram pulando e tomando conta do papel, em volume e cores. De repente, as palavras não eram mais escritas em azul. As linhas, os meus argumentos, começaram a aparecer desenhados em um desfile de cores e luzes, de acordo com o tema de cada parágrafo ou a pontuação usada: vermelho intenso, azul celeste, verde musgo, rosa cintilante. E, a cada nova cor que eu via surgir – mesmo eu usando aquela mesma caneta e não tendo parado um momento sequer de escrever – mais uma linha do meu texto surgia, e eu continuava escrevendo e escrevendo, em um misto de prazer e exaustão. A partir de um certo momento, não me importava mais a cor do texto, importava apenas continuar escrevendo.
Perdi a noção de quantas paginas escrevi, e principalmente perdi a noção de sobre o que eu estava escrevendo. Ao começar a escrever, o texto (as cores) tomaram conta do papel, e a mistura de cores fez o papel ficar tão evidente, que me chocou perceber que tudo aquilo que ali estava escrito tinha partido de mim. Quantas cores que eu não sabia que tinha, quantas misturas, quantas possibilidades que eu ate então ignorava.

Ao iniciar mais uma pagina – o ultimo paragrafo -, a tinta começou a ficar mais clara, e começou a faltar. Depois de um certo tempo, eu apenas escrevia sem nada registrar, pois da caneta já não saia mais nenhuma cor, nenhuma tinta.

Finalmente parei de escrever. Olhei para a caneta, para o monte de papel, para as minhas mãos. Respirei fundo. Decidi reler aquele conjunto de esforço e cores.

Ao voltar ao começo, a primeira pagina, percebi que nada havia escrito. Paginas e mais paginas em branco. Nenhuma palavra, nenhuma cor. Tanto esforço, tanta entrega, tanta troca... paginas em branco!

A caneta, desde o inicio, estivera vazia. Tolice minha achar que de uma caneta vazia poderia sair o registro de tantas idéias e tantas cores...

Quem sabe amanha eu tento de novo... usando outra caneta.

7 comentários:

Thaysa Ramos disse...

Bom...acho que vou te dar uma caneta de presente, ja que o livro vc ja leu...rs!

leonardosanjos disse...

Meu reino por um papel carbono por baixo desses traços.

Sabrina Noureddine disse...

Concordo com o Leonardo, tantas cores e luzes, faltou o carbono para registrar tudo...
Mas como tudo na vida, podemos recomeçar, sempre e novamente, quantas vezes quisermos...
Bjos.
PS: apareça no blog, sinto falta de seus comentários.

Karina Lerner disse...

tá tudo na mente, no inconsciente, é teu, tesouro interior. escreva de novo, escreva outras coisas, escreva até no ar, se quiser! tá tudo valendo, tudo se guarda, se extravasa, se perde e se reencontra numa esquina qualquer em 40 anos ou em 2 dias!

Anônimo disse...

beautiful Lisa, very nice

Sabrina Noureddine disse...

Oi Lisa,
Deixei um presentinho para vc lá no blog, é só pegar, ok?
Escreva mais, estou com saudades.
Bjos, Sabrina.

Anônimo disse...

Fascinante Lisavieta, tudo o que você escreve é divino e toca a minha alma de uma maneira que ainda não consegui compreender. Que bom te achar, agora, direta ou indiretamente, você faz parte da minha vida. Obrigada de fato!