1 de set. de 2006

Quando o Invisível Nos Salta Aos Olhos

O novo filme do M. Night Shyamalan, A DAMA NA ÁGUA (versão em português para o título original Lady in the Water), lembra, de várias formas, o igualmente maravilhoso SINAIS.

Para os fãs do diretor, que apostam sempre em filmes surpreendentes como O SEXTO SENTIDO, tanto SINAIS quanto A DAMA NA ÁGUA podem parecer frustrantes. Provavelmente, porque as minúcias desses filmes, sua real beleza e encanto, acontecem a partir do cotidiano transformado em situações fantásticas e inverossímeis, que constituem, na verdade, pano de fundo para uma estória maior.

Em A DAMA DA ÁGUA, o zelador de condomínios Cleveland Heep, vê-se de frente com o seu passado, supostamente engavetado, a partir de uma sucessão de fatos fantásticos – assim como acontece com o personagem Graham Hess, em SINAIS.

Ao conhecer de forma inusitada a jovem e frágil Story (cujo nome já nos revela um pouco de sua confusa identidade, tendo em vista ela ser uma personagem fantástica de uma antiga estória de ninar – bedtime story), Cleveland se vê diante não apenas da crise de Story, mas de sua própria. Não é apenas Story que desconhece sua identidade, seu destino e sua missão, mas todos nós – apesar de, muitas vezes, fingirmos que não. Talvez por isso não seja tão estapafúrdio vermos o zelador e os demais moradores do condomínio acreditando tão facilmente em sua condição, porque nós mesmos somos levados a acreditar.

E aí se mostra a real beleza do filme, não em suas criaturas fantásticas e trilha sonora envolvente, mas na capacidade do ser humano de ACREDITAR, de BUSCAR. Seríamos nós capazes de ser como somos e fazer grande parte do que fazemos se alguém não nos dissesse que somos capazes?, qual a tênue linha que divide o destino da “mão na massa”?, quantas vezes, ao ouvirmos alguém nos dizer algo, realmente escutamos o que aquela pessoa diz em vez de o que queremos acreditar que ela esteja dizendo?, se pudéssemos previamente conhecer o nosso destino, optaríamos por fazê-lo, ou preferiríamos ignorar esse conhecimento e construí-lo às escuras?.

Em A DAMA DA ÁGUA, Shyamalan nos expõe de forma crua o quanto tentamos tornar verdade aquilo que queremos que seja; o quanto somos conhecidos, muitas vezes, apenas a partir das identidades que aparentamos ou tentamos aparentar; e o quão prepotentes somos ao julgarmos conhecer os outros a partir de impressões.

E, invariavelmente, nos surpreendemos com o quão pequeno somos em nossas percepções e julgamentos, e o quão enorme em nossos potenciais – muitas vezes desconhecidos.

4 comentários:

Anônimo disse...

A cada hora que se aproxima o dia em que meu coração se encherá de saudade e terrível sensação de perda, sinto-me impotente diante do inevitável.... very sad today... sorry.

Olá! Eu sou a Sâmia! disse...

Lisa,
Bastante inspirador...ainda não vi o filme (não chegou na capital baré-manaós).

A verdade (na minha visão simplista, às vezes) é que o ser humano é meio que parasita dele próprio. Parasita de sentimentos. Como vc disse, se papai e mamãe não disserem: vc consegue, vai! nós ficamos enclausurados por nossos próprios medos.
Claro que alguns de nós, um pouco mais iluminados, acho, conseguem viver sem ter que escutar a cada hora o quão bom ele é, o quanto faz falta,etc.
Mas, sempre existe (e como isso é comum nos homens, mi godi!) aqueles que NECESSITAM estar num pedestal.
Com relação a conhecer ou não o futuro: se eu tivesse a chance de conhecer meu futuro, não sei se iria querer saber. Não somente por perder a graça da vida (já pensou, eu descobrir que não vou casar com aquele carinha que amo, ou que não terei filhos - quero uma família grande - ou que não serei tão bicho-grilo daqui a dez anos???), como pelo fato, este é o principal, de que se soubesse tudo o que iria acontecer comigo então descobriria que o futuro é imutável. A ignorância de certa forma nos protege.
De mais a mais, o ser humano é inerentemente (nooossaa) mal. Nós somos ruins por natureza. Aprendemos a ser bonzinhos com a família, a socialização. Quem, quando criança nunca fez uma maldade com um bichinho (sem querer, lógico). É a verdadeira identidade humana.
A diferença (que faz diferença) é que alguns (muitos) de nós conseguem enterrar a maldade (ou guardar em uma gaveta no fundo do armário). A maioria mascara (são os piores). E o que sobrou? Bom, esses nós vemos nos noticiários todos os dias.

Anônimo disse...

Achei isso aqui através do orkut.. não vou comentar o post sobre o Lady in the Water, porque eu não li.. É, tenho uma mania de evitar ler qualquer coisa sobre um filme que eu ainda não tenha visto, ainda mais do M. Night Shyamalan, gosto muito dos filmes dele..

Mas li sobre o Lost in Translation, adorei o tópico, mesmo porque estou no Japão nesse momento.. é tudo muito diferente aqui.. pena não ter encontrado uma Scarlet Johansson pra me acompanhar, ahahahahah..

Anyway, tudo de bom pra você.. t+

Lisavieta disse...

Oi, Felipe.
Também sou fã dos filmes do Shyamalan, e aguardo suas impressões sobre o filme qdo vc assisti-lo, OK?
Qto ao Japão... morro de vontade de conhecer!!! Q inveja de vc, hein?
Abraços.