17 de jul. de 2006

Aquela Suave Melancolia


Todos temos que viver as horas, os dias, e seus momentos - seja o tempo uma realidade, ou uma construção do homem na tentativa de equacionar tudo aquilo que lhe foge ao controle.

Nas relações pessoais, amorosas, profissionais, ou no ambiente onde nos encontramos, às vezes a vida parece ter entrado em uma espécie de engrenagem, e temos a sensação de que, a partir daquele momento, tudo tomou um rumo, e seguirá um confortável e previsível padrão. Mas há também aqueles momentos em que é difícil até mesmo o reconhecimento do rosto que vemos ao espelho. E nesses momentos, geralmente, nos sentimos irremediavelmente sós, órfãos, perdidos, abandonados por todos e pelo destino. Olhamos para os que nos rodeiam, e custamos a perceber alguma identidade entre nós e esses “estranhos”.

O filme Lost in Translation (que, no Brasil, recebeu o título Encontros e Desencontros) retrata alguns desses momentos em que a suposta perfeita engrenagem parece apresentar defeitos. Sou encantada com esse filme por diversas razões: o casal de atores protagonistas, a trilha sonora, a incrível vontade que cresceu dentro de mim de conhecer o Japão, e, principalmente, por falar com tanta delicadeza sobre a solidão. Em meio a uma era em que os avanços tecnológicos facilitam cada vez mais a conexão entre as pessoas, essas são – e se sentem – cada vez mais sós.

Charlotte, recém casada, acompanha o marido ao Japão a trabalho. Vendo-se sem a sua companhia por vários dias, ela se depara com a dificuldade de comunicação, em um país estranho cujo idioma ela não entende. Mas, aos poucos, vamos compreendendo que as barreiras criadas pelas diferenças culturais podem ser contornadas. Estar só não significa, necessariamente, sentir-se só. Sentir-se só, para Charlotte, é estar ao lado de seu marido - com quem ela começa a desconfiar não ter tantas afinidades quanto imaginava, com quem ela não consegue se comunicar, a quem ela tantas vezes não reconhece ao olhar, com quem ela percebe não partilhar das mesmas ambições – do que explorar sozinha uma terra nova, estranha e completamente diferente.

O filme apresenta cenas interessantíssimas – e divertidas - de dificuldade de comunicação entre os protagonistas (Bob e Charlotte), e os japoneses. Mas, mesmo o que se perde na tradução de uma língua para outra ainda é menos do que se perde quando tentamos traduzir o que disfarça a falta de comunicação entre aqueles que falam a mesma língua.

Vale à pena assistir Lost In Translation, e partilhar de sua suave melancolia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Amiga!
Concordo com quase tudo que você diz sobre o filme, menos com um ponto: se eu tinha vontade de conhever o Japão, ela diminuiu muito após este filme! Fiaquei assustada com tanto barulho, tanta luz...
Mas mostra tão bem a solidão, não é? E nos dá esperança, o que acho sempre admirável!

Olga disse...

Lisa,

Não vi esse filme mas concordo com seu texto. Não precisamos estar sózinhos para nos sentirmos só. Podemos estar em meio a uma multidão e sentirmo-nos completamente sózinhos. Enquanto, às vezes, sózinhos, sentimo-nos bem, como se estivessemos acompanhados. A solidão vém de dentro da gente e não de fora.

Beijos,
Olga.

Andréia Martins disse...

Boa dica de filme, principalmete porque adoro a solidão (em doses homeopáticas) e sou apaixonada pelo Japão!
Às vezes nos conformamos com uma situação ´so porque é mais confortável, mas nem sempre aquilo que está na nossa frente é o certo...

=*****