6 de mai. de 2006
O Prosperar Contínuo do Desejo
Engana-se quem ainda não vê relação entre a Economia e a Felicidade. Hoje, muito se fala sobre Felicidade Interna Bruta de um país (FIB). Assim como o PIB, o FIB é um índice, mas diferentemente daquele, esse mede o grau de satisfação de uma população com sua qualidade de vida. Não é de hoje que se relaciona a felicidade com as condições econômicas de um determinado país. Adam Smith, o autor de A Riqueza das Nações, já discutia a felicidade em Teoria do Sentimento Moral.
O conceito de Felicidade Interna Bruta surgiu na década de 1970, no Butão, um pequenino e distante reino isolado no Himalaia, de cultura tradicional budista, para rejeitar a idéia de que o desenvolvimento deveria ser uma cópia exata do Primeiro Mundo. Lá, a felicidade do povo é um dos objetivos do governo, e esta busca se baseia em quatro pilares: incentivo à cultura, preservação do meio ambiente, independência econômica externa e bom governo. Foram implantados sistemas de saúde e educação universais que aumentaram significativamente a qualidade de vida da população. Satisfeitas essas primeiras necessidades, outros fatores passam a afetar o índice de Felicidade Interna Bruta: as relações sociais, o tempo que se consegue passar com família e amigos, saúde, e o grau de satisfação no trabalho – ou o desemprego.
Começamos a falar, então, sobre o que o economista alemão Johannes Hirata, define como bem-estar subjetivo. Ora! Subjetivamente, quanto mais pessoas ricas em uma sociedade, mais os pobres vão se sentir pobres. Subjetivamente, na medida em que um indivíduo alcança os objetivos que supostamente o fariam feliz, ele criará outros para justificar a – ainda – busca pela felicidade. Isso explica porque um país como o Butão, que rejeitava o modelo de consumo, hoje, com sua população educada e saudável, quer mais é consumir. Quando um país é muito pobre, quando a pessoa passa fome, ela não está feliz. Um aumento de bem-estar material traz felicidade, mas só até certo ponto, onde ela pára de crescer. Esse fenômeno reforça uma idéia que tem raízes na escola utilitarista do século XIX, segundo a qual a utilidade marginal de qualquer coisa é decrescente. A segunda barra de chocolate dá menos prazer que a primeira e assim por diante. É um paradigma usado como argumento para a importância da distribuição de renda e de o Estado destinar mais dinheiro às políticas que beneficiem os mais pobres. A correlação entre renda e felicidade nos países ricos mostra que, ao longo do tempo, eles não ficam mais felizes quando crescem. Isso acontece, por exemplo, com os Estados Unidos, onde não há aumento do bem-estar subjetivo faz muito tempo. Eles começaram a medir isso em 1946. A renda per capita lá deve ter aumentado no período entre 200 e 300%, mas não houve aumento significativo da felicidade. Reflexos de uma sociedade capitalista, sempre insaciável: o dinheiro dá muita felicidade para quem tem pouco, mas ajuda pouco quem já tem muito.
Fico, ainda, a me questionar... o que é felicidade?, qual o patamar a que deveremos chegar para nos sentirmos plenamente felizes? Sinto a minha felicidade em jogo, com todas essas questões...
Em recente entrevista, o psicanalista Flávio Gikovate defendeu a teoria de que o ser humano não está preparado para a felicidade, e vive “sabotando” as possibilidades de alcanlçá-la. Por exemplo, o indivíduo define como seu sonho, seu protótipo de felicidade e realização, adquirir um determinado carro. A probabilidade de ele procurar – mesmo que inconscientemente - que haja qualquer eventualidade que apague do objeto de desejo a aura que o sonho embute, e o transforme em algo abaixo do que seria o ideal, para que ele possa usá-lo tranqüilamente e não precise conviver com a insuportável sensação que já atingiu plenamente o que o faria feliz – tendo em vista não ser isso verdade mesmo – é muito grande. Alarmantemente, o mesmo raciocínio pode ser usado em nossas relações interpessoais, principalmente as de fundo romântico.
Só posso concluir concordando com o filósofo Thomas Hobbes, quando disse que a felicidade é o prosperar contínuo do desejo. Essa mesma felicidade, que “brilha tranqüila, depois de leve oscila, e cai como uma lágrima de amor”.
Aguardo outros estudos sobre felicidade. Quem sabe, no próximo, a felicidade é associada a baixas na taxa de colesterol!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
cyvOi amiga, essa sua preocupação com a felicidade é inerente a quem busca e mesmo a felicidade sendo um “estado” a gente nunca encontra a capital. rsrsrs.
Segundo Vinícius e Tom Jobim “a felicidade é como a pluma, que o vento vai levando pelo ar.Voa tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar...”
Parece que o dinheiro está sempre na frente ou por trás dela, outro dia vi alguém dizer que o dinheiro pode não trazer felicidade, mas paga todas as contas que ela faz.
Bonito texto.
Oi Lisa!
Lindo texto! (como sempre..rs)
Acho que a felicidade é cada coisa mínima do seu dia-a-dia que a deixa feliz.
Afinal pode-se parecer feliz o tempo inteiro; mas não é possível ser feliz todo dia, toda hora, todo instante.
O que importa é que tenhamos essa sensação boa. Nem que seja por pouco tempo, pois ela sempre volta, não importa o que aconteça.
Uma ótima semana para vc! Grande beijo.
lisa, achei lindo o texto!
o teu conto esta pronto?
beijos!
Ai, que esse texto só me lembrou as aulas de Sociologia!
Seria mesmo fantástico se a felicidade fosse uma meta governamental, mas me parece até utópico, cada vez mais nos preocupamos menos com os outros além de nós mesmos e dos nossos. Será possível?
=*
Amei o texto!
Me trouxe lembranças de alguém capitalista que entrou na minha vida e preferiu ver uma "lágrima de amor" em meus olhos a deixar de usufruir da felicidade material e passageira. Sempre acreditei que a felicidade está dentro de cada um de nós. Dinheiro é necessário, mas não é o principal. Ele vem sempre quando estamos bem, pois quando estamos bem, sabemos batalhar por ele. É necessário cultivar a felicidade interior para que a vida siga seu rumo tranquilamente sem termos que comprar a felicidade.
Postar um comentário