Em meio a uma semana calma e comum, deparei-me com o garçom de botequim que falava francês! Não vou negar que esse fato realmente ficou entre os marcantes da semana, afinal, não é todo dia que vemos um poliglota servindo em mesa de bar pequeno e barato!
Adoro botequins, e isso não é novidade. Poucas mesas, tira-gostos baratos, bebida em doses sempre maiores que nos demais estabelecimentos (e com variedade limitada), e as boas surpresas! Não é em todo lugar que podemos ter a minha satisfação de poder tomar uma crush, ou um guaraná Baré, ou ainda nos aventurarmos a provar uma marca de cerveja cuja melhor propaganda mais parece um calendário de oficina mecânica de beira de estrada!.
Da mesa onde eu estava – na calçada, sempre! - , via um DVD de um show de axé, ou forró – ignoro- , mas era um dos dois, pois tinha aquelas interessantíssimas bailarinas de cabelos tingidos e micro-saias brancas, dançando com parceiros que deviam ter metade de seu peso.
E nesse momento chega o garçom. Garçom de botequim é sempre extremamente simpático, ou está sempre correndo, para atender, sozinho, os seis pedidos feitos de uma vez... uma pinga na mesa um; um frango a passarinha na mesa 2 (mas vê lá, hein, garçom, não vai me trazer só asa de frango!). Nesse caso, o garçom era uma estranha fusão dessas duas características. Chegou em meio aos torpedos das outras mesas para atender a minha. Eu, freguesa cativa de botequim, já estava com o meu pedido na ponta da língua, para que o pit stop do garçom não fosse além do planejado. Quando o pedido foi prontamente atendido, soltei um distraído merci beaucoup, que foi rebatido com um instantâneo il n´y a pas de quoi.
Esse breve diálogo não me perturbou durante três vodkas, quando comecei a refletir sobre o ocorrido. O que leva um garçom de botequim a falar francês?, será que ele também responderia em alemão, russo ou japonês?. Senti uma quase irresistível vontade de chamá-lo para conversar sobre os mais diversos assuntos que me afobaram durante essa semana: desde o banimento do leite da merenda das escolas públicas americanas até a bombástica noticia anunciada pelas indústrias de brinquedos de que a Barbie estaria se reconciliando com o Ken, anos após tê-lo trocado por um bonequinho metrossexual de meia tigela... Teria a Barbie cansado da falta de conteúdo do namorado?, estariam as crianças americanas com o colesterol alto justamente por causa do leite, e não dos sanduíches do McDonald´s?? Creio que só uma pessoal com um perfil tão pitoresco quanto esse garçom poderia entender as minhas dúvidas e buscar comigo soluções alentadoras! Mas me controlei, não o chamei! Em vez disso, diverti-me – enquanto ainda havia vodka em meus devaneios – tentando imaginar onde ele havia aprendido francês, e com que finalidade, e, sobretudo, por que ele era garçom de botequim! Seria ele um agente secreto, procurando pescar confissões de clientes que freqüentam botequins achando ser lá um lugar seguro para se conversar sobre os mais escusos assuntos?, teria ele perdido seu emprego e seu grande amor, e nada mais lhe restava se não servir caldinho de peixe e cerveja morna?
Fui dormir ainda com a mente iluminada (por várias cores) por todas essas conjecturas, ignorando que provavelmente ele escutou essa frase de algum cliente, ou pretende seguir carreira de garçom em algum cafe na França – juntando o que ganha de gorjeta, claro!
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